Baixo nível dos reservatórios deverá manter térmicas ligadas por mais tempo em 2013
Agentes avaliam que situação é crítica e que chuvas deverão chegar com intensidade menor que a esperada
02/01/2013

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O nível dos reservatórios das hidrelétricas no Sudeste/Centro-Oeste chegou ao nível mais baixo dos últimos 12 anos para o mês de janeiro. 2013 começa com 28,9% de capacidade de energia armazenada nos lagos das usinas da região. O número está um pouco abaixo do verificado no mesmo mês de 2001, ano do racionamento. A situação é preocupante, segundo especialistas ouvidos pela reportagem da Agência CanalEnergia. Com as térmicas despachadas a todo vapor, não resta outra alternativa a curto prazo a não ser torcer por um período úmido bastante generoso. Mas a previsão é que as chuvas não chegarão com a intensidade esperada e as térmicas deverão continuar ligadas por bastante tempo em 2013.


O nível de estoque de água no Sudeste fechou 2012 apenas 0,8% acima da Curva de Aversão ao Risco (CAR). Em janeiro de 2008, quando pela primeira e única vez o índice na região ultrapassou o limite, o preço da energia no mercado spot disparou e atingiu o teto, ultrapassando os R$ 600/MWh. No último dia de dezembro de 2012, a CAR do subsistema Nordeste estava 1,8% abaixo do limite. Contudo, este evento não terá impactos sobre o preço devido à criação da regra de despacho termelétrico fora da ordem de mérito. Desde outubro, todo o parque térmico brasileiro está acionado. Dos 14 mil MW médios, cerca de 3,5 mil MW médios foram despachados sob esta premissa.


Em 2001, o período chuvoso não apareceu e o governo se viu obrigado a fazer cortes de cargas. As previsões meteorológicas para o mês de janeiro de 2013 apontam chuvas abaixo da média histórica no Sudeste e no Nordeste. “Vai ter que chover bastante para recuperar os reservatórios”, diz Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc Energia. Ele enxerga uma tendência de manutenção das térmicas ligadas durante todo o ano. Comercialmente, a conjunção de um PLD alto, acima dos R$ 300/MWh, e do baixo nível dos reservatórios congelam as migrações de consumidores para o ambiente livre. “A gente não aconselha a migrar nessa conjuntura. Os preços da energia ficam mais altos”, explica.


Carlos Faria, presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia, diz estar preocupado com a situação, pois a meteorologia aponta que as chuvas virão menos intensas nesse período úmido, comprometendo a recomposição dos reservatórios. "Possivelmente, vamos sair desse período chuvoso com reservatórios em nível mais baixo do que a média e isso será um fator de preocupação durante todo o ano de 2013", comentou.
Segundo ele, se o nível dos reservatórios não aumentar o suficiente, as térmicas terão que ficar acionadas por mais tempo e isso vai afetar o custo da energia para o consumidor. "Os contratos que estão sendo fechados hoje no mercado livre já mostram esse aumento de preço. Em 2012, os contratos poderiam ser fechados em R$ 90/MWh e hoje não se consegue comprar energia por menos de R$ 140/MWh", disse. Faria aponta ainda que a elevação nos preços da energia - devido ao acionamento das térmicas - somada ao Encargo do Serviço do Sistema vai afetar diretamente a proposta da Medida Provisória 579, que pretende alcançar uma redução média nas tarifas de 20%. "Com certeza, diante desse quadro, essa redução será menor, no máximo, de 10%", analisou.


Paulo Pedrosa, presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres acredita que mecanismos de reação de demanda poderiam contribuir para o alívio do sistema em períodos de stress do lado da oferta. Para ele, se houvesse incentivo econômico, algumas indústrias conseguiriam rearranjar sua produção no tempo e desligar voluntariamente algumas cargas em períodos de dificuldade. “Estes mecanismos não podem ser impostos, têm que resultar de decisões voluntárias das empresas”, frisa o executivo, que lembrou que em 2008, quando o PLD atingiu o teto, algumas indústrias trocavam contratos de direitos de consumo por cerca de um terço do que valia o preço spot à época. Na prática, elas preferiam desligar suas máquinas e vender energia no mercado de curto prazo.


Pedrosa conta que chegou a discutir com o governo, no bojo das conversas sobre a MP 579, que fosse incluída uma regra de corte de carga para consumidores livres que recebessem energia das cotas provenientes das hidrelétricas amortizadas. “Chegamos a discutir que esse período pudesse durar dois meses”, afirma ele, justificando a flexibilidade que alguns consumidores têm na gestão de sua produção.


Mas a solução para evitar períodos críticos como o atual, na opinião de Luiz Fernando Vianna, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia, é aumentar a quantidade de térmicas no sistema. "A gente entende que o país precisa de mais térmicas. O ONS está lançando mão dos recursos que tem e a situação poderia estar melhor se tivessem mais usinas térmicas a carvão e a gás natural", comentou. Segundo ele, existem vários projetos térmicos que estão prontos para serem construídos, mas não saem do papel. "Agora, no meio de janeiro, a UTE Uruguaiana vai voltar a operar e isso já vai ser um reforço significativo no sistema", aponta.