ONS aciona, esta semana, 99,6% das térmicas para suprir demanda
Operador prevê pouca chuva e aumento de 7% no consumo este mês.
10/03/2014

Poucas chuvas, previsão de aumento de consumo de energia elétrica e térmicas funcionando a todo vapor. Esse é o cenário projetado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). De acordo com o Programa Mensal de Operação (PMO), o ONS espera uma alta de 7% no consumo de energia para março deste ano em relação ao mesmo período de 2013. A expectativa é de uma carga de 67.950 Megawatts (MW) médios. Como consequência, o gestor do sistema programou entre os dias 8 e 14 deste mês o despacho de 17.442 MW médios das termelétricas. O valor representa 99,6% do total disponível no momento, de 17.500 MW médios.

O PMO indica que apenas o nível dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste terá aumento nesta semana por conta de uma frente fria, que deve ocasionar "chuva fraca”. Por outro lado, as usinas da região Sul terão queda no volume de armazenamento, pois a frente fria só deve chegar à região na quinta-feira. Já os reservatórios das regiões Norte e Nordeste não terão variação até sexta-feira.

No sábado, o ONS divulgou o nível das usinas do último dia 7 sem apresentar grandes mudanças em relação ao dia anterior. Os reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste subiram de 34,7% para 34,9% e os do Norte, de 82,1% para 82,3%. Os do Sul e do Nordeste permaneceram estáveis, em 39,8% e 42,1%, respectivamente.

— Com esse cenário, as térmicas estão sendo despachadas em sua totalidade. A grande preocupação é com o fim do período de chuvas, em abril. Fica visível que a relação entre oferta e demanda pode enfrentar algum tipo de desequilíbrio no futuro — afirma o consultor Raimundo Batista.

E a demanda continua avançando. Em sua previsão de carga, o PMO destaca a expectativa de aumento de 23,2% no consumo da região Norte em março em relação ao mesmo mês de 2013 por causa do fornecimento de energia para outros locais do Brasil, através do Sistema Interligado. O ONS lembra que “retirando o efeito dessa interligação, a carga prevista para março/14 apresenta um acréscimo de 0,7%” em relação a março de 2013.

No caso das regiões Sudeste e Centro-Oeste, a taxa de crescimento no consumo prevista é de 5,6% devido ao melhor desempenho da indústria. É o mesmo caso do Sul, onde é esperada alta de 9,2%. Além do melhor desempenho econômico, o ONS destaca que em 2013 houve baixas temperaturas na região, atípicas para o mês de março.

No Nordeste, onde a previsão de crescimento é de 3,2%, o operador informa que a alta é ocasionada pelo prolongamento (acima do habitual) do tempo seco em áreas litorâneas. Além disso, o PMO ressalta a maior demanda residencial e comercial, “reflexo da incorporação de aparelhos elétricos para refrigeração às residências e ao comércio, influenciado pelo aumento da renda”.

Consumidor pode pagar a conta

Na sexta-feira à noite, os ministérios de Minas e Energia e da Fazenda anunciaram que o Tesouro Nacional colocará R$ 1,2 bilhão na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) para “neutralizar despesas” de janeiro com o acionamento das usinas térmicas. Esse valor não cobre totalmente os gastos com o uso das térmicas e a compra de energia a curto prazo, cujo preço está no maior patamar da história, no teto estipulado pelo governo, de R$ 822,83 o MW por hora, de acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Segundo projeções de entidades do setor, as perdas estimadas pelo mercado podem chegar a R$ 18 bilhões neste ano. Por isso, a fatura pode sobrar para o consumidor final.

— A discussão ainda está no início, e a decisão ainda está longe de ser tomada, mas o que está se desenhando é um repasse para o consumidor — afirmou um técnico a par das discussões.

Se São Pedro não ajudar, o governo poderá botar em prática medidas nada convencionais, como a renovação imediata das concessões a vencer das distribuidoras, como foi feito em 2013 com as transmissoras e geradoras.

Por Bruno Rosa

Fonte: O Globo