Novos reservatórios são vitais para garantia de segurança hídrica e elétrica no país, alertam especialistas
Para eles, inépcia dos governos nos últimos 20 anos na condução dos investimentos acabou criando um ambiente de 'criminalização' dos grandes projetos hidrelétricos no Brasil 24/03/2015 O GLOBO - CURITIBA - A construção de novos reservatórios para enfrentar o risco crescente de desabastecimento é vital para a garantia da segurança hídrica e elétrica dos próximos 50 anos. O alerta foi dado por especialistas durante fórum do Dia Mundial da Água realizado, nesta segunda-feira, em Curitiba. Para eles, a inépcia dos governos nos últimos 20 anos na condução dos investimentos acabou criando um ambiente de "criminalização" dos grandes projetos hidroelétricos no Brasil. Segundo dados a Agência Nacional de águas (ANA), divulgados no Fórum, a capacidade de armazenamento do Brasil hoje é muito menor que a média mundial. Os reservatórios nacionais são capazes de suprir a necessidade hídrica por 47 dias, um terço da média mundial que é capaz de sustentar o consumo sem a necessidade de chuva por 147 dias. A preocupação em torno do uso sustentável dos recursos hídricos permeou o debate organizado pela Paraná Metrologia, com o apoio da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Fundação Roberto Marinho, Copel, Sanepar, Itaipu Binacional, Tecpar e Institutos Lactec.O fórum discutiu os conflitos entre agricultura, indústria e abastecimento humano no manejo da água. Apontou os principais pontos de desperdício dos recursos hídricos no país e águas nos diferentes sistemas e usuários. A pressão da opinião pública é apontado pelo ex-ministro de Minas e Energia do governo Fernando Henrique Cardoso e professor da Universidade Federal do Paraná, Francisco Luiz Sibut Gomide, como uma das causas que levaram os governos a não mais conceber usinas com represas, em grandes projetos, a partir da década de 1990. - Instituições fracas e governos despreparados permitiram isso - disse o ex-ministro. Gomide disse que durante as duas crises, a atual e a do apagão de 2001, os governos demoraram a adotar medidas de racionamento: - Quando chegamos no ano seco, nossos reservatórios estava na metade. Era necessário ter assumido que estávamos em crise antes. Este é o traço comum entre as duas crises - afirmou. Para o conselheiro da Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável (FDBS) e ex-presidente da Light, José Luiz Alquéres, a falta de planejamento e a má gestão das obras levou a uma inversão das imagens das hidroelétricas: - É um crime contra o futuro do Brasil. Estamos deixando de lado a política de hidroelétricas e substituindo por térmicas. E Isso é um problema sério. Estamos estressando nossos reservatórios. O encontro discutiu ainda a necessidade de rever os padrões de consumo da água. Apesar de ser um "alerta antigo", como classificou o representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Alan Bojanic, a discussão voltou na agenda pública brasileira por conta do atual cenário. Em 1993, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu o 22 de março como o Dia Mundial da Água, já se apontavam os desafios relacionados à proteção desse bem finito e essencial à vida humana. - Temos que repensar o consumo de água. E isso passa por um novo padrão de consumo das pessoas - alertou Bojanic. Os palestrantes discutiram também a reformulação do modelo de licitação. Alquéres propôs uma "mudança de paradigma" na gestão de recursos hídricos. A alteração passa pela criação de um sistema baseado em concessões por bacia ou sub-bacia hidrográfica, de forma integrada, abandonando-se o sistema atual de concessão por empreendimento. Se implantado, as futuras concessionárias, que poderão ser tanto privadas quanto públicas, seriam escolhidas por meio de licitação e responderiam pela gestão integrada de toda a bacia ou sub-bacia, submetidas às agências reguladoras e às normas que regem cada setor. - Elas teriam a possibilidade econômica de explorar o potencial hidrelétrico, cobrar captações de água ou despejos, zelar pela qualidade e saneamento. - resume Alquéres, afirmando que seu modelo seria um "negócio ambiental", com potencial para gerar um volume anual de receitas entre US$ 150 bilhões e US$ 200 bilhões, nos cálculos da FBDS. POR RENATO ONOFRE, ENVIADO ESPECIAL |
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