Déficit de geração hídrica pode chegar a R$ 30 bi, prevê Tractebel
A expectativa é que o déficit alcance cerca de 20% em 2015, o que representaria um efeito negativo da ordem de R$ 30 bi para as geradoras hidrelétricas
31/03/2015

VALOR - O impacto do déficit hídrico para as geradoras hidrelétricas será maior em 2015 do que no ano passado, prevê o diretor­presidente da Tractebel Energia, maior geradora privada do país, Manoel Zaroni. A expectativa do executivo é que o déficit alcance cerca de 20% este ano, o que representaria um efeito negativo da ordem de R$ 30 bilhões para as geradoras hidrelétricas.

"O GSF [sigla em inglês para a medida do déficit hídrico] faz a energia ‘sumir‘. Esse risco é influenciado por outros fatores, como energia de reserva e outras coisas do modelo. Não é culpa do gerador", explicou Zaroni, defendendo um aperfeiçoamento no modelo para evitar que as hidrelétricas arquem sozinhas com o impacto. "É um problema complexo, que precisa ser discutido e debatido." O executivo disse que as geradoras costumam estabelecer uma reserva da ordem de 5% para mitigar o risco do déficit de geração hídrica. Mas fatores que vão além daqueles que são administrados pelas companhias estão fazendo com que o déficit seja maior. "Há um percentual normal de reserva. Mas não havia expectativa de que o GSF seria tão grande", afirmou o diretor­presidente da Tractebel.

Ele acrescentou que a empresa, controlada pelo grupo franco­belga GDF Suez, consegue compensar parte do impacto do déficit porque possui um parque termelétrico de grande porte. O déficit de geração hídrica foi um dos principais fatores que influenciaram negativamente o resultado da empresa em 2014, um lucro de R$ 1,383 bilhão, com queda de 3,75% ante o ano anterior. Diante do cenário incerto para 2015, o conselho de administração da Tractebel propôs reduzir a distribuição de dividendos, de 100% para 55% do lucro líquido de 2014. O percentual ainda é superior ao mínimo estabelecido no estatuto da companhia, de 30%, mas será a primeira vez que a empresa não distribui 100% do lucro líquido desde 2010. Com isso, o conselho aprovou ontem a distribuição de R$ 775,2 milhões em dividendos e juros sobre capital próprio relativo a 2014. O valor equivale ao pagamento de R$ 1,1876 por ação. Do montante total, R$ 380,1 milhões são referentes a dividendos intercalares declarados durante o exercício de 2014, R$ 223 milhões de juros sobre capital próprio e R$ 172 milhões de dividendos complementares. O conselho também aprovou a retenção de lucros com base em orçamento de capital no valor de R$ 634,2 milhões. Para justificar a retenção de lucros, o colegiado aprovou o orçamento para 2015 e 2016, de R$ 2,86 bilhões.

Entre os principais investimentos da companhia estão as termelétricas Pampa Sul (RS), de 340 megawatts (MW), a carvão; e Ferrari (SP), de 15 MW, a biomassa; além do complexo eólico Campo Largo (BA), de 172,8 MW. Os três empreendimentos, que vão exigir investimentos totais de R$ 3 bilhões, negociaram energia no leilão A­5 do ano passado e precisam entrar em operação até janeiro de 2019. Com relação à  hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira (RO), a Tractebel só deverá assumir a fatia da GDF Suez no projeto após a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidir sobre o pedido de "excludente de responsabilidade" pelo atraso nas obras, feito pelo consórcio Energia Sustentável do Brasil (ESBR), responsável pela implantação e operação da usina. "A questão do excludente [de responsabilidade] é uma incerteza", disse Zaroni. Uma perícia judicial concluiu que dois incêndios e revoltas trabalhistas nos canteiros da usina levaram a um atraso de 535 dias nas obras sobre o qual a concessionária não teria nenhuma responsabilidade. A área técnica da agência, porém, considera que o excludente de responsabilidade é de apenas 155 dias. Com isso, o restante do atraso do empreendimento seria arcado pelo consórcio. A GDF Suez tem 40% do ESBR. Os demais sócios são a japonesa Mitsui (20%) e as estatais Chesf (20%) e Eletrosul (20%).

Por Rodrigo Polito. Colaboraram Daniel Rittner e Rafael Bitencourt, de Brasília