Geradoras alegam cenário instável e sugerem adiar leilão de usinas
O leilão, com seis lotes diferentes, está marcado para o dia 6 de novembro 25/09/2015 VaLOR - Pelo menos três grandes geradoras de energia têm interesse em um adiamento da relicitação de 29 usinas hidrelétricas que não renovaram suas concessões. O leilão, com seis lotes diferentes, está marcado para o dia 6 de novembro. A americana Duke Energy definiu que só vai participar caso o certame seja postergado. De olho em um lote com três usinas, a estatal paranaense Copel diz que o momento atual dificulta a obtenção de financiamento e sugere um prazo maior. O grupo italiano Enel também gostaria de ter mais tempo para fechar sua estratégia. Apesar da deterioração do cenário macroeconômico e da forte desvalorização cambial nas últimas semanas, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, descartou ontem o adiamento do leilão para 2016. Ele anunciou somente uma pequena mudança na data original, que era o dia 30 de outubro, mas atrasará uma semana por causa de ajustes pedidos pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Entre esses ajustes, segundo ele, estão mudanças na composição dos seis lotes. "O TCU entende que isso daria maior concorrência e transparência à disputa", afirmou Braga. Sem um adiamento, a Duke Energy não tem como entrar na disputa, conforme explicou ao Valor o presidente da empresa no Brasil, Armando Henriques. Como já opera oito hidrelétricas no rio Paranapanema (SP), com cerca de 2,3 mil megawatts (MW) de potência instalada, a Duke identificava "ganhos de sinergia" em dois ativos: as usinas de Ilha Solteira e de Jupiá. Quando somadas, elas têm bônus de assinatura no valor de R$ 13,8 bilhões. "A única forma de participarmos é havendo algum adiamento. Existe todo um processo de governança corporativa e um investimento desse porte não se pode tomar em prazo tão curto", disse Henriques. Normalmente, segundo ele, a análise de custos e benefícios demora cerca de três meses e precisa passar pelos acionistas nos Estados Unidos. "Não se consegue completar esse processo em trinta e poucos dias." No caso específico do Brasil, conforme ressaltou o executivo, há um fator de complicação: a perda do grau de investimento pelo país exige a análise de novos cenários para o retorno dos investimentos. A desvalorização cambial também muda o ambiente. "O financiamento não é um problema para nós, mas a análise de riscos mudou." A Copel pretende disputar especificamente o lote B. Esse grupo abrange as hidrelétricas Parigot de Souza (260 MW) e Mourão (8 MW), no Paraná, além da usina de Paranapanema (31 MW), em São Paulo. "Só temos sentido dificuldade de funding", afirmou o presidente da estatal, Luiz Fernando Vianna, antes de participar do encontro anual da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine), em Brasília. Vianna não vê problemas em um eventual adiamento do leilão para 2016 e cita a instabilidade do mercado como razão para isso. "Pelo contrário, achamos até interessante. Daria mais tempo para as empresas se prepararem e para o mercado se estabilizar. O pior, para o governo, é o risco de o leilão dar vazio [não receber propostas]", justifica o executivo. De acordo com ele, a Copel ainda não fez nenhuma captação após o rebaixamento da classificação do risco soberano brasileiro pela agência Standard & Poor's, mas percebe o cenário mais nebuloso. Lembrando que o BNDES não financiará o pagamento da outorga, Vianna comentou que a estatal analisa a possibilidade de levantar recursos por meio de fundos de investimento e participações (FIPs) e pela emissão de debêntures ou notas promissórias. O bônus de assinatura para o lote B é de R$ 735 milhões. A hidrelétrica Parigot de Souza é operada atualmente pela própria Copel, que preferiu não renovar sua concessão em 2012 -- quando a presidente Dilma Rousseff editou a MP 579, depois convertida na Lei 12.783. "É uma usina emblemática para nós", afirmou Vianna. Apesar da forte disposição de fazer uma oferta por esse lote, ele ponderou que a questão do financiamento é crucial. "A princípio, a nossa ideia é participarmos sozinhos", disse o executivo, descartando a formação de consórcio com outras empresas. "Vamos entrar para ganhar, mas desde que a gente não perca [dinheiro]", brincou. O presidente da Enel, Marcelo Llévenes, foi mais econômico em seus comentários. Ele afirmou apenas que o grupo italiano "avalia as oportunidades" de expansão no Brasil e admitiu que o momento "está mais complexo do que alguns dias atrás", mas preferiu não cravar se entrará na disputa pelas hidrelétricas relicitadas. Mesmo assim, Llévenes seguiu o apelo dos colegas. "Para nós, seria melhor ter mais tempo, pois teríamos capacidade de fazer uma avaliação mais completa", observou. Por Daniel Rittner e Rafael Bitencourt |
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