AES trará ao país baterias que armazenam energia
Opção está em fase inicial de expansão 24/11/2015 Líder mundial no armazenamento de energia em baterias, a AES planeja investir no setor no Brasil a partir do ano que vem, com uma unidade de 10 MW, em local ainda a ser definido. A aplicação mais importante no país deverá ser na integração de fontes renováveis intermitentes ao sistema elétrico, principalmente eólica e solar, que ganharão mais espaço nos próximos anos, já sendo relevantes em especial no Nordeste e, em menor medida, no Sul. A empresa também considera promissor o uso da alternativa no Brasil para melhorar a eficiência do sistema de linhas de transmissão, assim como no auxílio à geração de energia em horários de ponta, quando o consumo é maior. [Uma unidade de baterias da companhia americana localizada nos Estados Unidos, para armazenamento de energia] Vice-presidente de negócios de distribuição da AES, Teresa Vernaglia vê um bom terreno para o armazenamento de energia no Brasil, num cenário em que fontes renováveis como a eólica e a solar terão mais peso na matriz energética do país. "Elas vieram para ficar e só vão crescer. A bateria cai como uma luva nesse panorama", afirma ela, que comanda essa área na AES no país. Ela ressalta que o armazenamento ajuda a enfrentar a questão da intermitência da energia eólica e solar - há momentos em que não há vento, por exemplo. Explica que, como a geração dessas fontes é intermitente, a operação do sistema fica mais complicada. Aí é necessário contar com outras fontes mais caras para enfrentar a situação, afirma Rodrigo D'Elia, diretor de geração distribuída e armazenamento de energia da AES. "O armazenamento permite que se aproveite ao máximo o potencial das fontes renováveis, suavizando as intermitências e fazendo com que a curva de geração de energia dessas usinas se aproxima da curva de consumo", explica ele. As baterias podem armazenar energia de qualquer fonte. Em abril, a empresa espera concluir uma unidade de armazenamento de energia de 0,5 MW dentro da usina hidrelétrica de Bariri, em São Paulo, um projeto de pesquisa e desenvolvimento da AES Tietê, para geração em horário de ponta. Teresa diz que a AES tem conversado com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), devendo então definir onde será construída a unidade de armazenamento de 10 MW. "Nessas conversas, nós estamos analisando uma possibilidade de uma região onde nós possamos usar a bateria e mostrar a sua aplicação", afirma ela, destacando que o ONS, por operar o sistema, é quem primeiro vivência os desafios de intermitência na rede. No caso de unidades de armazenamento localizadas no Nordeste, a energia das baterias deverá vir das usinas de geração eólica ou solar. "Para fazer a integração das fontes renováveis intermitentes, é necessário colocar baterias próximas das usinas eólicas e solares, justamente para armazená-las e regularizá-las", diz D'Elia. Alternativa poderá ajudar na integração de fontes eólicas e solares ao sistema elétrico do país Em setembro, em entrevista já célebre concedida na Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, a presidente Dilma Rousseff disse que ainda não havia tecnologia para "estocar vento", ao comparar os custos de alternativas à energia hidrelétrica. O vento obviamente não pode ser estocado, mas baterias como as das plantas da AES podem armazenar a energia gerada pelas usinas eólicas. D'Elia destaca que a opção pode reduzir eventuais restrições no sistema de transmissão de energia no Brasil, tornando mais eficientes as já existentes e adiando investimento em novas linhas. "O adiamento dos investimentos em novas linhas acarretará na redução de custos para os consumidores, pois eles pagariam por uma nova linha de transmissão que, pelo menos nos primeiros anos, estaria sendo utilizada ainda muito abaixo de sua capacidade total." Ajudar na geração em horário de ponta, quando há mais consumo, é outra função que o armazenamento em baterias poderá ter no país, diz ele. Para Teresa, há um terreno promissor para a área no Brasil, mesmo com a economia em retração e queda no consumo de energia. Ela reitera a perspectiva de crescimento das fontes renováveis intermitentes na matriz energética do país nos próximos anos, lembrando também do risco de eventos climáticos, como secas prolongadas, uma ameaça para um país em que hidrelétricas têm tanto peso na geração. Com isso, o armazenamento em baterias é uma alternativa que deverá ganhar espaço. O presidente global da AES Energy Storage, John Zahurancik, também diz ver um mercado interessante para o segmento no Brasil. "Acho que há uma oportunidades para o armazenamento ser uma parte do sistema de transmissão e distribuição e resolver alguns desses desafios", afirma ele. Zahurancik nota que o país enfrenta hoje um cenário em que o câmbio que se desvalorizou com força, o que torna mais caro trazer tecnologia do exterior. No entanto, ele acredita que em algum momento poderá haver produção de baterias no Brasil, o que pode ajudar a reduzir os preços e a diminuir o problema do câmbio. "Por se tratar de uma nova tecnologia, há a possibilidade de desenvolvimento no futuro de uma indústria para este setor dentro do Brasil", diz D'Elia. Já para a unidade de 10 MW que pode ser construída em 2016, a AES levaria ao Brasil "uma solução integrada" de fora, por não haver condição de fazer algo diferente no momento, segundo Teresa. "O nosso objetivo é trazer uma planta real, com uma aplicação real, para que os órgãos que planejam a rede, como a EPE [Empresa de Pesquisa Energética] e a Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica], vejam e nós possamos trabalhar numa regulação que permita fazer isso em larga escala". Por Sergio Lamucci [O jornalista viajou a convite da AES] No começo de novembro, uma unidade de armazenamento de energia em baterias da AES começou a funcionar comercialmente em Cumberland, no Estado de Maryland. Com 10 MW, a planta atua na regulação de frequência, evitando variações que possam afetar o sistema elétrico da região. Essa é uma das aplicações da alternativa, sendo usada na Costa Leste dos EUA. A unidade de Cumberland é a primeira a usar a quarta geração do armazenamento de energia em baterias da AES. Uma das principais vantagens do chamado Advancion 4 é ser mais compacto, permitindo a instalação de mais MW num espaço menor, segundo John Zahurancik, presidente global da AES Energy Storage. É possível acrescentar baterias com facilidade quando elas começam a perder parte da capacidade de armazenamento. A construção desse tipo de unidade é bastante rápida - a planta de Cumberland foi concluída em sete meses, e a empresa acredita ser possível erguer uma instalação equivalente em cinco. Outro ponto positivo é que o impacto ambiental é baixo, não havendo emissão de gás nocivos e não sendo necessário usar água, diz Rodrigo D'Elia, diretor de energia distribuída e armazenamento de energia da AES no Brasil. As baterias são de íons de lítio. Em Cumberland, a planta tem 10 MW de energia interconectada ao sistema, que equivalem a 20 MW de recursos flexíveis, incluindo a capacidade de fornecimento e de carga. Zahurancik aponta o fim de 2014 como um "divisor de águas" para o setor. A partir do fim do ano passado e neste ano, a indústria passou a ver o armazenamento de energia em baterias como uma realidade, analisando como adaptar os sistemas comerciais, de modo a garantir que os investimentos nessa alternativa se materializem, diz ele. "Nós estamos vendo o começo de um período de crescimento", afirma ele, lembrando que a AES está há oito anos atuando nesse ramo. Hoje, há no mundo cerca de 1.600 MW em armazenamento de energia em baterias, englobando projetos em operação, em construção, os já contratados e os anunciados. A AES é líder, com 20% desse total, atuando nos EUA, Chile, Irlanda do Norte, Holanda e Filipinas. Um dos obstáculos a uma disseminação maior da alternativa é o custo dos sistemas de baterias, hoje um pouco acima de US$ 500 por kiloWatt-hora instalado. Para que haja uma utilização mais ampla, há quem veja a necessidade uma queda para a casa de US$ 150 ou menos. Zahurancik vê esse cálculo como simplista, lembrando que os custos caíram 80% nos últimos oito anos. Segundo ele, essas estimativas são feitas por quem se concentra excessivamente na questão de arbitragem de energia, em que se carrega a bateria quando a energia está barata e se descarrega quando ela está cara, ficando um tempo sem exercer nenhuma atividade. "Esse é um modo de usar a bateria, mas não é realmente o mais útil", diz Zahurancik, observando que, na planta de Cumberland, elas funcionam continuamente, para ajudar no equilíbrio do sistema elétrico. Segundo o executivo, todos os projetos da AES na área são viáveis economicamente, não contando com subsídios. O maior projeto da AES será uma central em Alamitos, na Califórnia, de 100 MW, que deverá estar pronta para ser usada em 2021. Será a maior unidade de armazenamento do mundo, atuando no auxílio à geração no horário de ponta, quando há maior consumo de energia. A opção de armazenamento concorreu com outras opções de fornecimento de energia, e foi a vencedora, diz Zahurancik. |
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