Mercado livre de energia atrais mais investidores
Das dez maiores comercializadoras de energia independentes, seis têm alguma parceria com empresas estrangeiras e do setor financeiro 27/02/2018 Estado de S.Paulo - 26.02.2018 - Consideradas durante anos como a segunda divisão do setor elétrico, as comercializadoras de energia viraram um negócio bilionário, cobiçado por bancos e fundos de investimentos. Essas empresas são o principal elo de um segmento que não para de crescer no País: o mercado livre de energia, ambiente que permite aos consumidores deixarem de ser atendidos por distribuidoras para escolherem de quem vão comprar a eletricidade (ver quadro). As comercializadoras fazem a intermediação entre geradores e consumidores, além de prestarem assessoria aos clientes na redução de custos. Com a escalada da conta de luz nos últimos anos e a necessidade cada vez maior de as empresas melhorarem a competitividade, esse universo de clientes aumentou e incentivou novos negócios. De 2015 para cá foram criadas 50 novas comercializadoras, somando 222 empresas. Para este ano há 35 pedidos de aberturas, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). O movimento é acompanhado de forte apetite do setor financeiro e de empresas estrangeiras. Hoje, das dez maiores comercializadoras independentes (não ligadas a geradores) do País, seis já têm algum tipo de parceria ou sócios do setor financeiro e de empresas estrangeiras. A lista inclui BTG, que hoje está entre as dez maiores comercializadora do País; o banco de investimento australiano Macquarie, sócio da Nova Energia; o Pátria Investimentos, acionista da Capitale; e o Credit Suisse, que ajudou a Delta a desenvolver um fundo de investimento de R$ 1 bilhão com ativos lastreados na venda de energia. Uma das últimas investidas ocorreu em agosto passado, quando o banco Brasil Plural comprou 100% da Celler, comercializadora até então considerada pequena. Mas, desde a aquisição, que ainda precisa ser aprovada pelo Banco Central, a empresa saltou 20 posições no ranking nacional das comercializadoras independentes e está entre as dez maiores. “O faturamento subiu de R$ 200 milhões para perto de R$ 1 bilhão e o lucro líquido triplicou”, diz o co-presidente da Celer, Cristian Nogueira, responsável pela Mesa de Energia do Brasil Plural. Segundo ele, trata-se de um casamento perfeito, pois os clientes são os mesmos do banco. O próximo passo é criar duas novas comercializadoras, sendo uma para contratos com um único consumidor e outra para negociar contratos de energia pré-paga (compra-se do gerador mais barato e ganha na venda pelo valor de mercado). Os produtos financeiros ligados à energia elétrica tem tido grande apelo no mercado, especialmente por parte de fundos de investimentos e de family office. Mercado em foco - Comercializadoras de energia crescem com o avanço do mercado livre. De olho nesse filão, a Delta – antiga comercializadora do mercado –, se uniu com o Credit Suisse para desenvolver um fundo de investimentos que foca, especialmente, no pré-pagamento de energia. O fundo CSHG Delta Energia foi aberto em 21 de julho do ano passado e captou R$ 1 bilhão. A meta é obter um retorno de 20% a 25% ao ano com o produto. “O setor tem evoluído muito, está mais transparente e as regras são estáveis”, afirma Ricardo Lisboa, sócio do Grupo Delta Energia. O executivo afirma que desde 2012 tem percebido o interesse de investidores por esse tipo de produto mais sofisticado. No passado, com a falta de incentivo para o crescimento do setor, houve muita especulação nas operações de mercado, o que criou uma certa aversão da ala mais conservadora do setor e até mesmo do governo. Em 2008, com a crise energética no País, muitas comercializadoras que especulavam no setor quebraram, lembra Gustavo Machado, sócio fundador da Nova Energia, que tem como sócio o banco australiano Macquarie. “Mas hoje o cenário é outro. A base de clientes aumentou de forma significativa e turbinou o crescimento do mercado”, diz Machado. Em 2015, o mercado livre contava com 1.826 consumidores. Atualmente são em torno de 5 mil. Ou seja, o mercado quase triplicou no período, e criou empresas bilionárias. No ano passado, a Nova Energia, por exemplo, faturou R$ 3 bilhões com a compra e venda de energia. A Comerc, outra empresa tradicional do setor, faturou próximo de R$ 1,8 bilhão e já foi sondada por investidores para possíveis parcerias. O presidente da empresa, Cristopher Vlavianos, afirma que o crescimento do mercado se deve especialmente à busca das empresas por custos menores de energia. “O consumidor também vê esse como um mercado de oportunidades.” Comercializadoras podem avançar com novo marco regulatório Mercado livre de energia atrais mais investidores - O novo projeto de lei que vai alterar o marco regulatório do setor deverá dar novo impulso ao mercado livre e, consequentemente, às comercializadoras. O secretário do Ministério de Minas e Energia, Paulo Pedrosa, afirma que o objetivo é dar maior liberdade ao mercado e incentivar a geração distribuída – aquela produção de energia feita em pequena escala, como os painéis solares nas casas. Comercializadoras podem avançar com novo marco regulatório - Objetivo é dar maior liberdade ao mercado e incentivar a geração distribuída – aquela produção de energia feita em pequena escala, como os painéis solares nas casas. O novo projeto de lei que vai alterar o marco regulatório do setor deverá dar novo impulso ao mercado livre e, consequentemente, às comercializadoras. O secretário do Ministério de Minas e Energia, Paulo Pedrosa, afirma que o objetivo é dar maior liberdade ao mercado e incentivar a geração distribuída – aquela produção de energia feita em pequena escala, como os painéis solares nas casas. “O objetivo é modernizar os setor; o modelo procura reconhecer um conjunto de variáveis que exclui a intervenção e dá espaço para novas tecnologias.” Ele destaca que o crescimento do número de comercializadoras é uma ótima notícia, mas o governo precisa criar mecanismos de redução de riscos. “Não podemos ter uma empresa que comercializa bilhões de reais com um capital social de R$ 30 mil”, afirma ele, destacando que o governo deve criar instrumentos semelhantes aos usados na bolsa de valores. A vice-presidente do Conselho se Administração da Câmara de Comercialização de Energia (CCEE), Solange David, também vê a necessidade de ajustes no setor. “As medidas vão dar maior robustez e aumentar a credibilidade do setor.” Isso vai ampliar a entrada de empresas ligadas ao setor financeiro na comercialização, avalia ela. “A chegada desses investidores agrega valor ao setor e melhora a competitividade e credibilidade.” Para o presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia Elétrica (Abracel), Reginaldo Almeida de Medeiros, o Brasil está atrasado em relação ao resto do mundo e, portanto, o potencial de crescimento é grande. “Na Europa, o consumidor residencial já pode escolher seu próprio fornecedor há mais de dez anos.” Por Renée Pereira |
|