Mudança é essencial para evitar nova inadimplência com risco hidrológico
Projeto de lei aprovado pelo Senado encaminha acordo para destravar imbróglio bilionário - especialistas veem como necessário rever modelo para reduzir impacto do clima na geração 22/11/2018 DCI - 16.11.2018 - Diante da perspectiva de resolver a inadimplência bilionária no mercado de energia, referente ao risco hidrológico (GSF), o próximo desafio do setor será encontrar soluções estruturais para evitar que o problema se repita.
“O problema não termina com a aprovação. Estudos indicam que a questão do GSF vai durar até por volta de 2030, pela configuração do sistema. Ainda é necessário um próximo passo para achar uma solução estrutural, mudar regras, para que não ocorra de novo”, aponta o vice-presidente de operações da Thymos Energia, Leonardo Calabró. O sócio da área de energia do ASBZ advogados, Daniel do Valle, afirma que o GSF foi judicializado porque estava mal dimensionado. “Todos os geradores hídricos formam um grande condomínio e, quando não chove, gera menos. O mecanismo faz um ajudar o outro, mas na crise hídrica a soma de todo mundo não era o suficiente.” O presidente do grupo Indeco, Otávio Santoro, entende que o risco hidrológico é inerente a um sistema com grande participação da matriz hídrica. “O que deve ser discutido são formas da inadimplência não ser acumulada e um modelo matemático que possa amenizar o impacto financeiro do clima.” Para Santoro, uma opção é a maior diversificação de fontes no sistema. “Como aquelas renováveis, por exemplo.” Aprovação do projeto - O valor da inadimplência gerada pelas liminares chegou a quase R$ 9 bilhões. O montante foi reduzido em R$ 3 bilhões após a queda de duas decisões judiciais que beneficiavam a Associação Brasileira dos Produtores de Energia Elétrica (Apine) e as usinas do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). “Quem aceitar essa repactuação e pagar o que está devendo vai ganhar um tempo maior para continuar explorando o potencial hídrico da concessão”, explica Valle. Entre os credores, estão geradoras, distribuidoras e consumidores livres que tiveram sobras de energia. “Quem gera mais do que o contratado e devolve para o sistema fica com crédito. Há uma gama de empresas, como geradoras eólicas e térmicas”, conta Calabró. O PL ainda precisa passar pela Câmara dos Deputados e, caso ocorra alguma alteração, tem que voltar para o Senado. “Se o texto for mantido, o projeto vai para sanção ou veto do Presidente. Acredito que a grande dificuldade era mesmo passar pelo Senado e já deve estar alinhado para ser aprovado na Câmara”, destaca Valle. Calabró afirma que é fundamental que o projeto seja sancionado até o início do ano. “Com a queda dessas liminares, vai dar um respiro nos próximos seis meses para que ocorra a implementação do acordo e comecem os pagamentos. O momento é vantajoso, por estarmos entrando na estação das chuvas.” O advogado detalha que esse cenário diminui o risco hidrológico e evitaria que um valor muito alto de dívidas seja acumulado. “Se a coisas não andarem, pode haver complicações com o período de seca, quando o risco de não geração é maior. Mas acredito que essa chance é pequena.”Valle destaca que um dos benefícios do acordo é que não atingiria o consumidor por meio de aumento das tarifas. “Os grandes geradores receberiam essa extensão de outorga. Na teoria, o prejuízo é do governo, pela alteração do prazo das concessões.”Santoro ressalta a importância do acordo para permitir a liquidação das operações realizadas pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). “Destrava o mercado. A desjudicialização é importante para toda a cadeia e traz mais segurança.” Por Ricardo Casarin |
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