Entidades de consumidores querem deter leilão de 'térmicas jabutis'
Construção de usinas foi incluída na privatização da Eletrobras; grupo também vai questionar benefício à Âmbar 15/07/2022 Folha de SP - Um grupo de entidades que representa consumidores prepara a formação do que chama de frente ampla de defesa de quem paga a conta de luz no setor de energia elétrica. Oficialmente, a frente deve ser lançada no início de agosto, mas as entidades já estão dando início a algumas iniciativas que buscam defender o consumidor contra custos extras que consideram injustificados. Segundo Luiz Eduardo Barata, consultor do iCS (Instituto Clima e Sociedade), essa nova frente já elegeu três bandeiras. Inicialmente, as entidades vão atuar pela via administrativas em diferentes órgãos, mas não descartam no limite discutir as diferentes questões na Justiça. A primeira iniciativa é deter o processo que leva à construção de 8 GW (gigawatts) de térmicas a gás previstas na lei que permitiu a privatização da Eletrobras. Isso inclui suspender o primeiro leilão desses projetos, já marcado para setembro. As entidades preparam correspondência para solicitar a suspensão ao MME (Ministério de Minas e Energia). Apelidadas de "térmicas jabutis", por terem sido inseridas no projeto a revelia da proposta original, elas devem ser construídas onde não há gás e longes dos centros consumidores, com os custos sendo repassados à conta de luz. Essa característica geográfica exige a construção de redes de dutos para levar o gás e de linhas de transmissão para tirar a energia, que também tendem a gerar custos adicionais para o cidadão, sem uma justificativa razoável, avalia Barata. "Esses 8 GW não saíram de nenhum projeto, a EPE [Empresa de Pesquisa Energética, responsável pelo planejamento do setor] nunca apontou a sua necessidade", diz Barata. "E ninguém perguntou para os consumidores se eles queriam pagar por isso." Como o lobby no atual Congresso foi forte em favo dessas térmicas, as entidades avaliam que podem conseguir reverter esse custo após a eleição, com a renovação de parte da composição do parlamento. A outra ação conjunta das entidades, que também já está em curso, é pressionar a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) a tomar medidas mais enérgicas em relação às térmicas do PCS (Procedimento Competitivo Simplificado). Esse leilão, realizado em outubro do ano passado, liberou a construção de 17 usinas, 14 a gás, para funcionarem como seguro apagão em caso de seca nas hidrelétricas. Pelas projeções, a sua operação custaria um adicional de R$ 39 bilhões na conta de luz entre 1º de maio deste ano em final de 2025. Mais - O primeiro passo, diz Barata, é recorrer à Aneel para derrubar a decisão que beneficiou a Âmbar Energia. Com quatro térmicas atrasadas, que respondem por metade da despesa, a empresa conseguiu autorização para vender energia de outra usina, a térmica Mário Covas, em Cuiabá (MT), enquanto termina as obras. As entidades entendem que a decisão prejudica o consumidor, criando uma conta alta e desnecessária, além de ferir o edital do leilão. O terceiro ponto de ação, de longo prazo, é promover uma revisão no arcabouço regulatório que possa modernizar o setor e permitir a redução dos custos de energia. Nesse contexto, o projeto de lei 414 que tramita na Câmara, e não deve mais avançar neste ano, é visto como um começo. Uma das questões é rever a CDE (Conta de Desenvolvimento Energético). Dentro dela agora estão uma série de subsídios que, avaliam as entidades, precisam ser revistos, como irrigação para o agronegócio e incentivo a energias renováveis que já são economicamente viáveis. O crescimento desses itens ocorre há alguns anos, mas se acentuou recentemente por força do lobby. "Precisamos separar o que é decisão política e o que política pública", Mariana Amim, diretora da Anace. |
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